No
pequeno laboratório cheio de sucatas eletrônicas do Ginásio Carioca Orsina da
Fonseca, na Tijuca, ninguém ‘viaja' na imaginação quando se trata da aula de
Programação e Robótica, disciplina eletiva que utiliza, entre outras
ferramentas, plataformas de trabalho da Nasa (Agência Espacial Americana). Aos
13 anos, a estudante Amanda Moreira, moradora da Vila do João, no Complexo da
Maré, entrega-se à tarefa de construção de drones e bugs.
- Onde
moro não se aproveita o lixo. Aqui aprendo informática e a construir coisas
bacanas com material que ia para o lixo - disse a estudante, enquanto
desmontava computadores antigos com mais 24 colegas do 7º ano na eletiva
coordenada pela professora Maria Cristina Zamith.
A aula
de Programação e Robótica é umas das 11 disciplinas eletivas, que atraem os
alunos, que, muitas vezes, preferem ficar nas salas de aula, em horários
livres, conversando com os professores, do que no pátio. É o caso também da
disciplina ‘Diversidade de Gêneros, Colorindo a vida'.
Em
paralelo, surgiram os avanços pedagógicos. A Unidade escolar de tempo integral
oferece ainda salas de recursos funcionais e sala de leitura e promove projetos
extracurriculares, como o Tertúlia Literária. O Orsina da Fonseca tem hoje 392
alunos matriculados do 7º ao 9º ano, e mais 138 do PEJA (Programa de Educação
de Jovens e Adultos) no horário noturno, além de atendimento para alunos com
deficiência.
Tamanha
modernidade, aliada a outras iniciativas do Orsina da Fonseca, como a adesão da
unidade ao Programa de Educação Ambiental da Unesco, colocam a centenária
unidade, que em outubro completa 119 anos, em acordo com este início de século
XXI.
Quando
nascida, em 28 de outubro de 1898, como Instituto Profissional Feminino –
o nome Orsina da Fonseca foi incorporado em 1912 em homenagem à
ex-primeira-dama do País, então governado pelo Marechal Hermes da Fonseca – e,
ao longo de suas primeiras décadas de existência, a escola era voltada para
educação feminina com ensino de bordados e costura, por exemplo. Ao passar dos
anos, foram muitas as mudanças, inclusive sob o sabor dos momentos políticos do
Brasil, mas a Orsina sobreviveu, conquistou apoios e soube se reinventar. E
sabe preservar sua história, hoje guardada no Centro de Memória, que é
abastecido a cada descoberta de ficha ou foto amarelada.
-
Sempre tive um carinho enorme pela Orsina. Minha mãe deu aulas aqui e eu vinha
sempre. Quando recebi o convite para dirigir a escola vi que era um resgate.
Vim com a possibilidade de trabalhar em uma escola democrática. A Orsina é
desafiante - disse a diretora Kátia Daim, que topou o desafio da direção quando
já estava aposentada.
O veio
democrático, aliás, é uma constante pelos corredores, em meio ao corpo docente,
nas salas de aula e até nas casas dos estudantes já que os pais têm voz ativa
no Conselho Escola-Comunidade.
- Com a
nova proposta de escola, de uma gestão compartilhada, todos começaram a se
chegar - atestou Kátia.
Se por
um lado a robótica anda fascinando Amanda Moreira, a jovem que agora constrói bugs e drones,
por outro lado, a dança - outra disciplina eletiva - ajuda Jéssica Freire, 15
anos, aluna do 9º ano, a perder a timidez.
-
Entrei na dança para tentar acabar com a minha timidez. Não vou parar mais, me
ajuda - contou a adolescente, moradora do Morro de São Carlos, no Estácio, que
foi parar no Orsina seguindo os passos da irmã mais velha, hoje com 18 anos.
- Minha
irmã mais nova, de 11 anos, vem para cá também - anunciou, revelando mais uma
tradição do Orsina de ser a escola de famílias inteiras. Mas isso é coisa para
o Centro de Memória. No momento, Amanda e Jéssica, assim como seus colegas,
querem mesmo é aprender. Sabem que o futuro chega com a velocidade de um
foguete da Nasa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário