domingo, 19 de novembro de 2017

Professores youtubers: conheça os canais que democratizam a educação

Edutubers estão usando a internet para levar educação de qualidade a milhões de brasileiros — enquanto especialistas discutem como tornar as escolas mais tecnológicas
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: PAULO JUBILUT (BIOLOGIA TOTAL), MARI FULFARO E IBERÊ THENÓRIO (MANUAL DO MUNDO), CARINA FRAGOZO (ENGLISH IN BRAZIL), FELIPE CASTANHARI (NOSTALGIA) E, À FRENTE, MATHEUS MORAES (TETEUS BIONIC) (FOTO: JULIA RODRIGUES / EDITORA GLOBO)11/2017
Desde criança, duas coisas estiveram claras na cabeça de Paulo: amava os seres vivos e queria ser professor. Só não imaginava o rumo que a carreira tomaria. Formado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina, lecionou por dez anos em cursinhos e colégios, até perceber que algo estava errado. “Os alunos estavam dispersos por conta dos smartphones que surgiam”, lembra. “Minhas aulas não funcionavam mais.”
Foi demitido da escola em que trabalhava após dar uma bronca em alunos bagunceiros. De tão desanimado, considerou seriamente parar de vez com as aulas. Mas aí teve uma sacada. Percebeu que a tecnologia não era inimiga do ensino, pelo contrário. Ficou claro que tinha potencial de ser sua maior aliada. No fim de 2011, gravou algumas aulas e postou os vídeos na internet — deu tão certo que acabou trocando a sala de aula pelo YouTube. Hoje, todos o conhecem como Professor Jubilut, do Biologia Total, canal com mais de um milhão de inscritos.
O projeto cresceu e se tornou uma plataforma de estudos completa, com site próprio e cursos exclusivos, cujas mensalidades partem de R$ 17. “Hoje somos uma empresa de 25 funcionários, fizemos vídeos na África para explicar sobre os animais de lá”, conta o edutuber (como são apelidados os youtubers de educação). Jubilut é tão querido pela moçada que tem um fandom: os JubiAlunos. Nunca perdem uma JubiAula.
Além do Biologia Total, outros também extrapolaram os limites do YouTube — a maioria dos edutubers busca usar os canais para alavancar as próprias plataformas de ensino, onde conseguem ganhar mais com o conteúdo. Eles lucram, e os estudantes gastam menos que em cursinhos convencionais. Essa economia foi fundamental para Jhosen Congeta, de 27 anos, que cursa o primeiro ano de medicina na USP de Ribeirão Preto.
O objetivo de se tornar médico parecia um sonho distante para o jovem de infância pobre, nascido e criado em Belo Horizonte (MG). Estudou a vida toda em escolas públicas e não chegou a concluir o ensino médio: ele obteve o certificado de conclusão através do Enem. Mas Jhosen estava determinado a não desistir.
Conciliando o trabalho de vendas online e o cursinho, o rapaz descobriu em 2013 as aulas pela internet (dentre elas as de Jubilut) e se apaixonou. “Economizava o tempo de trajeto até o cursinho, além de não precisar copiar o conteúdo do quadro”, conta o jovem, que virou uma espécie de embaixador do ensino a distância. Para ele, distrações como as redes sociais são contornáveis.
O método caiu como uma luva para Jhosen e, após três anos de intensa preparação, foi aprovado em primeiro lugar de medicina na USP de Ribeirão e também em várias universidades federais, graças ao ótimo desempenho que obteve Enem. “É uma realização”, afirma. “Todos pensavam que seria impossível, até meu pai me pedia para colocar os pés no chão.”
Jhosen não é o único que gosta de estudar com auxílio da tecnologia. Segundo dados do YouTube, 65% dos usuários procuram a plataforma quando querem aprender: todos os dias, conteúdos educativos têm 500 milhões de visualizações. São assistidos por quatro vezes mais tempo do que vídeos fofos de gatinhos.
Usar recursos audiovisuais para ensinar também é a praia do norte-americano Jonathan Bergmann, professor de Química. Ele é um dos criadores do método da “sala de aula invertida”, que vem ganhando atenção. A ideia é simples: antes de ir para a escola, os alunos devem assistir a vídeos sobre o conteúdo. Assim, o tempo em classe fica menos expositivo (e entediante) e mais “ativo”.

“A magia está em fazer com que os alunos discutam, perguntem, criem e desenvolvam relacionamentos”, relata Bergmann. “Há estudos que provam que esse é o melhor método de ensinar, não vejo pontos negativos.” Os estudantes parecem concordar. Segundo levantamento da Quizlet, plataforma de aprendizagem gratuita, 74% dos alunos usam tecnologia para estudar em casa, mas só 37% podem usá-la em classe. “O maior problema da educação é a tradição”, aponta o químico. “Temos medo de mudar, mas todos os outros sistemas estão desenvolvendo formas mais eficazes de funcionamento”, argumenta. “A educação não.”
FONTE: revistagalileu.globo.com

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