Edutubers
estão usando a internet para levar educação de qualidade a milhões de
brasileiros — enquanto especialistas discutem como tornar as escolas mais
tecnológicas
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: PAULO JUBILUT (BIOLOGIA TOTAL), MARI FULFARO E IBERÊ THENÓRIO (MANUAL DO MUNDO), CARINA FRAGOZO (ENGLISH IN BRAZIL), FELIPE CASTANHARI (NOSTALGIA) E, À FRENTE, MATHEUS MORAES (TETEUS BIONIC) (FOTO: JULIA RODRIGUES / EDITORA GLOBO)11/2017
Desde criança, duas coisas estiveram
claras na cabeça de Paulo: amava os seres vivos e queria ser professor. Só não
imaginava o rumo que a carreira tomaria. Formado em Ciências Biológicas pela
Universidade Federal de Santa Catarina, lecionou por dez anos em cursinhos e
colégios, até perceber que algo estava errado. “Os alunos estavam dispersos por
conta dos smartphones que surgiam”, lembra. “Minhas aulas não funcionavam
mais.”
Foi demitido da escola em que
trabalhava após dar uma bronca em alunos bagunceiros. De tão desanimado,
considerou seriamente parar de vez com as aulas. Mas aí teve uma sacada.
Percebeu que a tecnologia não era inimiga do ensino, pelo contrário. Ficou
claro que tinha potencial de ser sua maior aliada. No fim de 2011, gravou
algumas aulas e postou os vídeos na internet — deu tão certo que acabou trocando
a sala de aula pelo YouTube. Hoje, todos o conhecem como Professor Jubilut,
do Biologia Total, canal com mais de um milhão de inscritos.
O projeto cresceu e se tornou uma
plataforma de estudos completa, com site próprio e
cursos exclusivos, cujas mensalidades partem de R$ 17. “Hoje somos uma empresa
de 25 funcionários, fizemos vídeos na África para explicar sobre os animais de
lá”, conta o edutuber (como são apelidados os youtubers de educação). Jubilut é
tão querido pela moçada que tem um fandom: os JubiAlunos. Nunca perdem uma
JubiAula.
Além do Biologia Total, outros também
extrapolaram os limites do YouTube — a maioria dos edutubers busca usar os
canais para alavancar as próprias plataformas de ensino, onde conseguem ganhar
mais com o conteúdo. Eles lucram, e os estudantes gastam menos que em cursinhos
convencionais. Essa economia foi fundamental para Jhosen Congeta, de 27 anos,
que cursa o primeiro ano de medicina na USP de Ribeirão Preto.
O objetivo de se tornar médico
parecia um sonho distante para o jovem de infância pobre, nascido e criado em
Belo Horizonte (MG). Estudou a vida toda em escolas públicas e não chegou a concluir
o ensino médio: ele obteve o certificado de conclusão através do Enem. Mas Jhosen estava determinado a não desistir.
Conciliando o trabalho de vendas online
e o cursinho, o rapaz descobriu em 2013 as aulas pela internet (dentre elas as
de Jubilut) e se apaixonou. “Economizava o tempo de trajeto até o cursinho,
além de não precisar copiar o conteúdo do quadro”, conta o jovem, que virou uma
espécie de embaixador do ensino a distância. Para ele, distrações como as redes
sociais são contornáveis.
O método caiu como uma luva para
Jhosen e, após três anos de intensa preparação, foi aprovado em primeiro lugar
de medicina na USP de Ribeirão e também em várias universidades federais,
graças ao ótimo desempenho que obteve Enem. “É uma realização”, afirma. “Todos
pensavam que seria impossível, até meu pai me pedia para colocar os pés no
chão.”
Jhosen não é o único que gosta de
estudar com auxílio da tecnologia. Segundo dados do YouTube, 65% dos usuários
procuram a plataforma quando querem aprender: todos os dias, conteúdos
educativos têm 500 milhões de visualizações. São assistidos por quatro vezes
mais tempo do que vídeos fofos de gatinhos.
Usar recursos audiovisuais para
ensinar também é a praia do norte-americano Jonathan Bergmann, professor de Química. Ele é um dos criadores do
método da “sala de aula invertida”, que vem ganhando atenção. A ideia é
simples: antes de ir para a escola, os alunos devem assistir a vídeos sobre o
conteúdo. Assim, o tempo em classe fica menos expositivo (e entediante) e mais
“ativo”.
“A magia está em fazer com que os
alunos discutam, perguntem, criem e desenvolvam relacionamentos”, relata
Bergmann. “Há estudos que provam que esse é o melhor método de ensinar, não
vejo pontos negativos.” Os estudantes parecem concordar. Segundo levantamento
da Quizlet, plataforma de aprendizagem gratuita, 74% dos alunos usam tecnologia
para estudar em casa, mas só 37% podem usá-la em classe. “O maior problema da
educação é a tradição”, aponta o químico. “Temos medo de mudar, mas todos os
outros sistemas estão desenvolvendo formas mais eficazes de funcionamento”,
argumenta. “A educação não.”
FONTE: revistagalileu.globo.com
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