segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A Busca Por Um Projeto Pedagógico Mais Conectado às Novas Tecnologias


Cada vez mais cedo, aparelhos digitais como celulares, tablets e computadores fazem parte da vida de crianças e adolescentes. O Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br) elaborou a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2012, onde foi analisado o uso da web entre jovens de 9 a 16 anos e seus impactos sociais. Constatou-se que, no Brasil, a idade do primeiro acesso à internet é, em média, entre 9 e 10 anos. Metade dos jovens afirma conectar-se à rede diariamente.
“A rapidez com a qual crianças e jovens estão obtendo acesso a tecnologias virtuais, convergentes, móveis e interconectadas não encontra precedentes na história da inovação e difusão tecnológica”, indica no estudo Sonia Livingstone, diretora da rede EU Kids Online. “Essas mudanças apresentam aos pais, aos professores e às crianças o importante desafio de adquirir, aprender a usar e definir objetivos para o uso da internet em suas vidas diárias.”
Nesse panorama, as duas principais instituições responsáveis pela formação das novas gerações – família e escola – ganham responsabilidades imensas, mas ainda se encontram perdidas diante dos desafios da inclusão e orientação digital. “Elas estão perplexas ante crianças e jovens cada vez mais informados, participantes e conscientes (mesmo que confusamente) de seus direitos, além de serem digitalmente competentes e de se mostrarem totalmente à vontade diante dessas novas tecnologias”, aponta Maria Luiza Belloni, doutora e mestra pela Universidade de Paris-Sorbonne e pós-doutora em Comunicação Política.
No ensino, fica evidente o descompasso entre o que os alunos têm nas mãos e a capacidade da escola de usar as novas tecnologias com propósitos pedagógicos. “Enquanto os alunos levam seus celulares para a sala, os professores muitas vezes não têm à disposição computadores e conexão para a realização de tarefas básicas como a busca de informações na internet”, alerta Maria Paulina de Assis, doutora em Educação pela PUC-SP.
Além disso, a falta de infraestrutura tecnológica, dificuldades de gestão escolar e problemas com a própria ação pedagógica, a dificuldade dos professores para adotar novas tecnologias, aparecem como grandes desafios. No ensino público, destaca-se também a fragilidade da implementação das políticas públicas. “A escola pública tem sempre projetos a serem implementados, e a inserção das novas tecnologias para o uso pedagógico acaba sendo muitas vezes atropelada por necessidades mais imediatas. Dessa forma, a presença de tecnologias na escola acaba sendo geradora de problemas e não de soluções”, destaca Maria Paulina.
O estudo TIC Kids Online Brasil 2012 também mostra como as novas tecnologias e a internet podem se transformar em potencial para inovações educativas, trazendo mais motivação para a aprendizagem na sala de aula e além dela. Para isso, entretanto, fica clara a necessidade de uma abordagem pedagógica que extrapole o uso dessas tecnologias pelos professores apenas como recurso para estratégias didáticas convencionais.
“A inclusão digital de jovens não depende da aplicação da tecnologia a políticas pedagógicas somente. É possível até mesmo dizer que nisto não há muita diferença entre escolas públicas e privadas, pois as privadas podem até estar mais à frente no sentido de ensinar os alunos a manipular o computador, mas também não utilizam os recursos digitais para criar novas propostas de ensino, como utilizar um game para resolver uma equação de segundo grau”, explica Regina de Assis, mestre e doutora em Educação pela Universidade de Harvard e pela Universidade de Colúmbia e consultora em mídia e educação.
A pesquisadora Ellen Helsper, doutora da London School of Economics, chama ainda a atenção para o que considera um equívoco das escolas, que é fazer uma divisão entre o universo online e o mundo real. “Esses dois campos são uma coisa só: a vida do aluno. Na escola, os piores lugares para se aprender a mexer no computador são as salas de informática, justamente porque configuram ambientes não familiares, estranhos, separados da vivência cotidiana dos jovens.”
Segundo Maria Paulina, as novas tecnologias devem ser integradas ao currículo por meio de uma pedagogia voltada para o aluno, tendo as motivações para a aprendizagem como centro da atenção do professor. Dessa forma, as dificuldades do professor em apropriar-se das novas tecnologias deixam de ser um problema, pois ele passa a atuar mais como mediador e orientador do conteúdo obtido através dessas interfaces.
“Assim, o professor fica mais atento aos objetivos de aprendizagem, à provisão de informações e orientações quando necessário, ao acompanhamento dos resultados, à avaliação, à observação de comportamentos e atitudes dos alunos que necessitam de intervenção, tendo um papel mais de mediador da aprendizagem do que de transmissor de conhecimentos”, explica.

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