Projeto Latin America Open Text Books Initiative (LATIn) teve
financiamento de 2 milhões de euros da União Europeia; estimativa é que 144
livros didáticos sejam publicados - por enquanto, há 12 prontos
Maria Amélia tem obra gratuita |
Preocupados com uma questão que afeta principalmente alunos dos países
em desenvolvimento - o alto custo dos livros didáticos para o ensino superior
-, os professores da Universidade Presbiteriana Mackenzie Ismar Frango Silveira
e Nizam Omar se juntaram a um grupo de docentes latino-americanos e
desenvolveram uma plataforma para escrever e publicar livros gratuitamente. Já
o professor de fotografia Neto Macedo, de Montes Claros, em Minas, incomodado
com a linguagem técnica das publicações, escreveu sua própria apostila no
Widbook, comunidade de escrita e leitura em formato de e-book.
Muitos professores adotam livros digitais em suas aulas, mas Silveira,
Omar e Macedo deram um passo à frente: eles perceberam que poderiam publicar
seus próprios livros sem o intermédio das editoras, sejam elas tradicionais ou
digitais.
“Em muitas áreas do conhecimento, os livros são traduções e não se
encaixam na realidade nacional. Alguns livros de Física, por exemplo, falam de
trenós na neve. Isso é muito fora da realidade de um aluno brasileiro”, diz
Silveira.
Foi tentando resolver o problema que, com professores de mais oito
universidades, Silveira e Omar conseguiram um financiamento de R$ 2 milhões por meio de edital da União
Europeia para projetos na América Latina e começaram o Latin America Open Text
Books Initiative (LATIn).
A estimativa é de que a solução resultará em 144 livros didáticos
abertos - por enquanto, há 12 prontos. As obras podem ser livremente e
legalmente copiadas, baixadas, impressas e distribuídas, por qualquer pessoa.
Os livros são escritos de forma colaborativa, por mais de um professor
ao mesmo tempo. “Achei uma oportunidade de interagir com professores de fora do
Brasil. Dividimos as tarefas e, com a Universidad Nacional de Rosario, na
Argentina, desenvolvi a parte multimídia”, diz Maria Amélia Eliseo, coautora da
obra A Origem das Cidades Modernas Capitalistas, escrita por docentes de dez
países.
Outra característica das obras é a possibilidade de customização. “A
ideia era justamente criar recursos educacionais abertos, que pudessem ser
editados pelos professores”, diz Omar.
O próximo passo é a expandir o projeto para outras universidades e
para o ensino básico. “Um grupo de docentes do Paraná fez contato, mas ainda
precisamos adaptar a plataforma, pois os ensinos fundamental e médio têm
demandas diferentes”, afirma Silveira.
Criação. Já o Widbook foi criado após o pedido do educador Marcos
Eberlin, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para que Flávio
Aguiar, então dono de uma agência digital na época, construísse um site onde
ele pudesse escrever e publicar seu livro Fomos Planejados. Além da simples
publicação, a intenção dele era que as pessoas pudessem ler e participar do
processo de escrita. “Queria um livro bastante dinâmico, que eu pudesse acessar
de qualquer lugar e colocar os capítulos no ar na medida em que escrevo, para
que todo mundo pudesse ler”, diz.
Criada em 2012, hoje a rede tem 200 mil membros, que publicam todo
tipo de obra. “Predominam os livros de ficção, mas há muitos didáticos também,
grande parte feita em colaboração entre professores e alunos”, afirma Joseph
Bregeiro, um dos criadores da plataforma.
“Eu encontrava muitos materiais bons, mas com linguagem complicada,
mais pareciam artigos. Queria algo com uma linguagem mais acessível, em que o
leitor sentisse estar participando de uma conversa”, conta Macedo, professor da
Universidade Pitágoras e de workshops de fotografia.
Apesar de admitir que o livro digital ainda encontra certa resistência
no meio acadêmico, os professores dizem acreditar que as ferramentas de
publicação colaborativa tendem a crescer. “Estamos em um novo século, com uma
conexão melhor que torna isso possível. É hora de repensarmos a nossa maneira
de fazer livros”, afirma Silveira.
Participam do LATIn:
Univ. Presbiteriana Mackenzie, Escuela Superior Politécnica del Litoral
(Equador), Univ. de la República (Uruguai), Univ. Nacional de Rosario
(Argentina), Univ. Autónoma de Aguascalientes (México), Univ. Austral de Chile,
Univ. Central de Venezuela, Univ. Católica San Pablo (Peru), Univ. del Cauca
(Colômbia), Universiteit Leuven (Bélgica), Univ. de Alcalá (Espanha) e Univ.
Paul Sabatier (França)
Fonte: Estadão - Educação
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